quinta-feira, 28 de julho de 2011

“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.” Léon Tolstoi

Itabuna, Bahia.
Foto: Tiago da Silva Pereira
Trabalho premiado no Concurso "Os Olhares da Cidade" (FICC, 2010)

Eu sempre penso no que há para além do rio da minha aldeia...


Itabuna, Bahia.
Foto: Tiago da Silva Pereira
Trabalho premiado no Concurso "Os Olhares da Cidade" (FICC, 2010)


O ANIVERSÁRIO DA CIDADE

Para Itabuna, por seus 101 anos

A cidade é marca indelével

cravada num peito aberto.

Expressa, na dureza dos anos

e na fragilidade dos dias,
a erosão inevitável
do tempo
que move as pedras pretas

ao sabor das águas turvas do rio.


A cidade comove os homens,

na sua falta de riso e paisagem,

em sua ausência de sentido e arte,

em sua dor de mácula e fome.
E se recente do tapa que fere o povo
e se debate na água suja que afoga os reis

e se contorce na tortura explícita que aniquila os sábios.

A cidade tão minha de paixão,

tão nossa de ilusão,

resiste aos dias ensimesmados

e toma o sol das manhãs,

a chuva das tardes

e as estrelas das noites

no aniversário dos
anos.


Genny Xavier


Itabuna, Bahia.
Foto: Tiago da Silva Pereira
Trabalho premiado no Concurso "Os Olhares da Cidade" (FICC, 2010)

___________

Homenagem ao aniversário de emancipação política de Itabuna, Bahia, em 28 de julho do 2011.

5 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Parabéns Itabuna, tão cantada por Jorge Amado e tantos outros escritores que fizeram de seu amor, poesia em prosa ou vice-versa. Um beijo!

Desnuda disse...

Querida amiga,

As fotos são lindas e adorei a oportunidade de vê-las e sentir a cidade através delas. A frase de Tolstoi é uma máxima Genny. O poema, além de lindo, é sentido profundamente com paixão de quem vê e observa.


Beijos com carinho e lindo fim de semana Genny!

Antonio Nahud Júnior disse...

Imagens, versos, sensações... Acertou em cheio, cara amiga.

O Falcão Maltês

ANTONIO NAHUD disse...

O BICHO VERMELHO


O sol escaldante e o céu azul.
Da varanda, vejo árvores vestindo a paisagem de todos os matizes.
Nu, entre o passo ordinário e a corrida, o bicho cruza a avenida.
Nunca vi um bicho tão nu!
Nu, avermelhado, sem um único fio de pelo…
Assustado, um pedestre recua e o olha fixamente.

Claro que está mortalmente com medo.
Mas o bicho não está louco de raiva, talvez seja um caso de sarna.
Tem o olhar sagaz. Onde estão seus filhotes?
As tetas cheias, suspensas.
Em que buraco os escondeu, pobre animal sem rumo?
Enquanto implora proteção, revela olhos sagazes.

Saiu nos jornais o que fazem
para resolver esse tipo de problema.
Como acha que lidam com os mendigos?
Os seduzem como a iara e os jogam na maré cheia.
Idiotas, paralíticos, parasitas, miseráveis, drogados sem cura,
todos nadam no esgoto que flui nas periferias escuras.

Se fazem isso com quem implora, padece,
bêbados e sóbrios, com as pernas tomadas pela gota e a cirrose,
o que não fariam com um bicho doente?
Nas mentes, calçadas e esquinas
a piada é arengue com os mendigos,
ao invés de dar esmolas, dão coletes salva-vidas.

Mas esse bicho vermelho não seria capaz
de remar com suas patas finas ou mesmo boiar.
O prático, a sensível solução é se mascarar.
Se dá ao luxo de não ser essa merda monstruosa.
Ser único, bicho avermelhado com máscara.
Estamos longe do carnaval, mas aqui todo dia é de festa, feriado nacional.
Será que ele sabe sambar? Como vai se fantasiar?
De político ou trapaceiro? Dá no mesmo.

Todos dizem que o Carnaval é um festejo degenerado
- as rádios, os estadunidenses - essa gentinha
que arruína tudo o que é da gente. Mas é conversa fiada.
O Carnaval é sempre maravilhoso, redenção!
Contudo, um bicho depilado, mesmo vermelho, não fica bem.
Vá! Se fantasie, bicho bizarro, se mascare e dance o carnaval da vida!


Antonio Nahud Júnior

Rita Santana disse...

Genny, Itabuna também é minha! Vivi aí os anos mais importantes entre infância e adolescência. A juventude também foi marcada pela presença da cidade em aventuras artísticas. O poema é belo e as fotos trazem de volta o lugar,o pertencimento. Um beijo, minha querida Poeta! Grata pela visita nos dias do meu aniversário.