segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Pintura figurativa de Mary Jane Ansell

 

SOLITUDE

  

O tempo, que incide sobre as memórias,

traz à tona, por breves momentos,

alguns pedaços de cenas vividas

ou rostos que julgamos esquecidos

lá no fundo dos nossos baús de coisas guardadas...

Nos chegam como as cartas antigamente chegavam,

entregues à mão,

com os cheiros das pessoas e lugares grudados ao papel...

de surpresa...a trazer repentinas notícias de longe.

As reminiscências somem ao piscar dos olhos

e deixam-nos o gosto do sabor não saciado,

como doce roubado...ou beijo quase saboreado.

Acaso, ao lembrar o tempo passado,

nos flashes fotográficos das lembranças,

algo nos anseia, como uma dor mansa

a fluir pelos vasos sanguíneos.

Não há retorno do vivido

e, como o amor partido,

cristais quebrados não se recompõem.

Desta forma, seguimos na solitude dos dias,

entre muitos como nós

e entre tantos que nos divergem,

colhendo do tempo ido, as memórias,

e do tempo agora, os dias ermos...


Genny Xavier