domingo, 30 de junho de 2019

“Multipliquei-me para me sentir, para me sentir, precisei ser tudo” – Álvaro de Campos/ Fernando Pessoa

Pintura de António Costa Pinheiro - Óleo sobre tela - 1978


AS OUTRAS FACES DE MIM

 (Das leituras de Fernando Pessoa e seus heterônimos)

Eu olho com olhos de muitos
a paisagem contemplada no horizonte.
Tomo cada boca beijada
como se múltipla fosse a minha
pousada em cada outro
a outra em mim estimulada.
E, a mão que percorre o áspero ou suave corpo,
responde diferente em cada textura visitada.
E, ainda que variados odores me cheguem
invocarão cada mulher em mim despertada
- Rosas, Margaridas, Hortênsias e Angélicas.

Mas, há em mim a face que mais se multiplica:
mulher refletida no espelho partido da palavra latente,
leve ou pesada
maleável ou dura
física ou volátil...
Esta palavra,
herdada de outras mulheres que fui,
esculpida diante da poeta que sou
e eternizada no anjo que serei,
escapará da única alma que tenho,
límpida e doce
cristalina e invisível
para pousar, finalmente,
no imaculado papel que o vento trouxe...

Genny Xavier

As várias faces de mim...


5 comentários:

São disse...

Muito bonito e muito profundo ese seu texto, minha querida!

Te abraço, desejando semana boa e um Julho muito feliz

Mar Arável disse...

Sempre bela no ciclo das marés
Bj

Jaime Portela disse...

Este seu poema é soberbo.
Os meus aplausos, querida amiga.
Genny, continuação de boa semana.
Beijo.

Manuel Veiga disse...

belo, o poema!

e belas as "personas" em que te mutiplicas

beijo

R's Rue disse...

Beautiful.