sexta-feira, 14 de junho de 2024

Foto Unicef - LeMooyn 

 

RUMOS INCERTOS

 

Haverão de seguir os passos

pelos áridos caminhos do mundo...

Os pés cansados, seguem

trôpegos de exaustão...

Estão secas as mulheres

de corpos e de almas...

Estão rotos os filhos

de vestes e de sonhos...

As casas do passado ruíram,

as do futuro, são miragens,

avistadas ao longe,

do outro lado de fronteiras intangíveis...

São ásperos os tempos

e não haverá braços de acolhimento

nem mãos que os puxem além das cercas.

E os olhos do mundo se fecham,

por vergonha ou indiferença

entre sóis e luas que se alternam

 

Genny Xavier


Jornal A Verdade - www.averdade.org.br 

sábado, 13 de abril de 2024

Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis


A POESIA FAZ SEU TRABALHO

 

A poesia abranda

a bruma espessa

do mundo...

suaviza a densa

fumaça dos dias.

 

A poesia adentra

o coração da vida

e fortalece seus batimentos...

irradia ao pulso

que ainda pulsa.

 

A poesia

interliga sinapses,

conecta a mente...

e reverbera ideias

aos outros pensantes.

 

Ao tempo que passa,

a poesia faz seu trabalho...

centelha do universo

que se moldou

ao barro da terra.


Genny Xavier


Fonte: https:/br.freepi.com/fotos-premium


sexta-feira, 5 de abril de 2024

"Ora (direis) ouvir estrelas! (...)" (Olavo Bilac)

 

Fonte: https://br.freepik.com/fotos-premium


AS PALAVRAS SEMPRE ENCONTRAM UM JEITO

 

As palavras dormem

sob o leito do rio...

mas ainda enxergam as estrelas

através da transparência das águas.

 

No reflexo do espelho líquido

sonham banhadas de luz,

emergindo lenta e suavemente,

para flutuar acima da superfície ondulante 

do rio corrente.

 

Agora, as palavras voam

e espiam a noite estelar.

Estão libertas do silêncio do fundo das águas

e experimentam a melodia dos sons noturnos,

a brisa do vento

e a infinitude dos pontos de luz

que brilham no tapete do céu...

 

As palavras sempre encontram um jeito

depois do silêncio profundo...

Lição de sonhos:

Emergir, flutuar, voar...libertar!


Genny Xavier


segunda-feira, 17 de julho de 2023

Fonte: Google


SOBRE VIVER E MORRER

 

A vida trava duelos com a morte,

do prelúdio ao epílogo,

seja em qualquer tempo,

qualquer dia ou hora...

 

A vida, no seu percurso,

vence algumas batalhas,

e perde outras,

colecionando resiliências...

e muitas cicatrizes.

 

A vida exige da alma

sentido e profundeza;

do corpo, força e resistência...

uma atenção total da mente

focada na luz dos caminhos...

 

Viver é um grande desafio

de combater o bom combate

para compreender

o mistério de partir...


Genny Xavier


Fonte: Google


domingo, 30 de abril de 2023

Fonte da imagem - Google


FILOSOFIA DO OLHAR

 

A imagem

projeta na retina dos olhos

o Universo

de estrelas intangíveis...

O caminho da visão

chega ao destino

do coração

que faz a consciência sentir

a conexão da grandeza

fora e dentro de nós...

O olhar incessante

anseia abrir caminhos

e percorrer o Cosmos

do ínfimo à imensidão...

 

Somos parte disso,

partícula formada

da poeira estelar.


Genny Xavier 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Foto - Marcello Casal - Agência Brasil


DIA DAS CRIANÇAS

 

Amanhã

cantarão todos

pela infância.

Farão festa.

Distribuirão doces

e presentes

para as crianças.

À noite

dormirão tranquilos,

as consciências repousadas,

vaidosos da própria bondade.

 

Depois, virá outro dia

e tudo se repetirá...

As crianças voltarão às vitrines,

enfeites e troféus

de pais orgulhosos...

Ou voltarão às manchetes

dos crimes policiais,

enfeites e troféus

de um país sem sonhos...


Genny Xavier

Fonte da imagem - smabc.org.br


terça-feira, 13 de setembro de 2022

Fonte: Google


IRONIAS CONTEMPORÂNEAS

 

Há no mundo hoje uma gastrite corrosiva

ou será meu estômago o causador de tudo?

Não há café na dispensa

e meu negro companheiro

dessa noite escura de lua escondida

se despede de mim em suas últimas gotas

que escoam da garrafa térmica.

 

Ainda bem que não bebo do líquido

que detona o mundo em escaramuças e guerras!

Peripécias do petróleo

fazendo campanhas intestinais,

a despejar nas praias

seus detritos trazidos pelas marés...

 

Há um domingo finalizado,

marcando o compasso dessa madrugada

que desponta um dia novo e real.

Remexo gavetas e papéis...

Há contas a pagar

que revolvem minhas entranhas...

Sou brasileira!

E, me perdoem, tenho dívidas histéricas

que me aguardam nas esquinas...

Vivo de dribles, surrealistas, pra lá de Garrincha!

 

Ah!...um café cairia bem!

Bálsamo de cafeína

para minimizar minhas inquietações...


Genny Xavier

(Poema escrito em 12 de setembro de 2022, as 02h35min) 

sábado, 13 de agosto de 2022

Foto: André Luiz Sá Gomes

 

SINAIS DE LUZ NA DIMENSÃO DO AMOR

 

Para Lelê, prima-tia de alma gentil e inspiradora

 

Uma alma luminosa

anuncia seus sinais

numa hora exata

de um dia especial...

e desenha no céu a dádiva visual

da luz solar refratada

nas gotículas da chuva...

Conjunto de arcos coloridos

que, aos nossos olhos,

nos relembra um fecundo amor

pela natureza:

seja terra, água,

plantas e flores;

seja sol, chuva

e arco-íris...

 

Tudo é vida,

seja matéria ou espírito,

na dimensão real ou mística...


Genny Xavier

*Poema escrito em 21 de julho de 2022.

Renilde K. Sá (Lelê)


segunda-feira, 13 de junho de 2022

Fonte: Google

 

TODA POESIA

 

Há poesia no mundo

que segue as intempéries

dos desafetos e dos descaminhos?

Ou que festeja os dias

e salta fogos

ao som de tambores dançantes?

 

Onde encontrar a poesia?

Nas recônditas cavernas?

Nos desertos silenciosos?

Nas remotas paisagens selvagens?

 

Gritos reverberam,

suspiros são ouvidos,

gemidos sutilmente se esgueiram

pelas frestas das portas...

Mas, onde a poesia se escondeu?

Desvaneceu?

Evaporou?

 

Ou há poesia em todas as coisas?

Em todas as dores?

Todas alegrias?

Em todas as rebeldias?

Todas as flores?

Todos os amores?


Genny Xavier

segunda-feira, 23 de maio de 2022


 

CONTO:

REQUIÉM PARA A GAROTA QUE AMAVA JANIS JOPLIN

 

Ela sempre dizia, entre um cigarro e outro…ouvindo a Janis:
“Ah! se um dia me mate, há de ser ouvindo a Janis...”

Era uma noite de céu azul escuro e havia muitas estrelas salpicadas nas lonjuras do universo. Saí para relaxar a inquietação que me tomava...queria estar sozinho, andar em minha própria companhia. As ruas me pareciam arrefecidas da costumeira agitação ou seria o frescor do clima ameno que aguçava o meu estado de ânimo que minha alma silente exalava?

Eu procurava um sentido mais palpável naquela noite pois tudo me parecia imponderável. Pensei na rotina dos dias, no cotidiano que a gente acredita ser imutável diante de tudo que criamos ao redor das fases da vida que duram meses, anos...trabalho, família, happy hour ao fim do dia longo, almoço de domingo, cachorro de estimação, amigos de longas datas...tudo que, desde a infância, temos a ilusão de que irá permanecer nas etapas de vida.

Mas as coisas mudam, as vezes devagar e, em outras, abruptamente. Nem sempre percebemos, de tão natural que ocorrem, ou não nos conformamos por nos causar dor e mágoa. O certo mesmo é que ao longo do percurso o velho clichê é uma verdade indigesta que engolimos: nada é para sempre...

Ela sempre dizia, entre uma vodca e outra…ouvindo a Janis:
“Ah! se um dia me mate, há de ser ouvindo a Janis...”

O centro da cidade parecia me acolher e a hora noturna também. Uma brisa leve me trouxe um alívio contra o peso do corpo e da cabeça. Uma cerveja cairia bem. Atravessei o largo da praça e subi a ladeirinha calçada de pedras rústicas na direção de um bar que eu conhecia bem. O local agradável é frequentado pela juventude boêmia em que mesas de madeira se dispunham dentro e fora do local. Artistas, universitários, professores, amantes da boêmia, ali se reúnem para ouvir boa música, conversar ou sentar sozinho numa mesa para beber e pensar na vida, como eu naquela noite.

Naquele dia da semana o bar estava quase vazio. O blues suave de John Mayall ecoava a canção Mists of time no som ambiente...a música parecia encomenda para meu estado de alma, e trechos da sua letra traziam lembranças que ficavam dançando na minha cabeça...

“Às vezes um sonho vai me assombrar
E eu vejo o rosto de uma jovem
Ela era uma vez de verdade
E ela realmente compartilhou meu espaço?”
 
“Até agora minha vida é uma jornada
E eu não mudaria nada
Todos esses anos de aventuras ousadas...”

Pedi uma cerveja e me sentei do lado de fora. Tudo tão familiar para mim...o bar, as pessoas, a música, a garçonete...ainda assim tudo me parecia diferente, estranho, como alguma coisa perdida que nunca mais seria recuperada, como uma lacuna vazia, que não poderia ser mais preenchida.

Para os sensíveis, a vida pode ser dura. Inadaptados aos rigores da realidade e, sôfregos de desejos libertários, se deixam consumir. Uma infância de traumas e uma adolescência de perdas deixa marcas, especialmente quando se aliam a um coração abrasado e um intelecto aguçado e filosófico. Ela era exatamente assim, não experimentava tempos de calmarias, não abria mão de seus impulsos, sofria de avidez crônica e não se permitia tréguas para se abastecer do combustível da paz interior. Para aqueles que tentavam frear seus impulsos, dizia: “A vida é um trem fora dos trilhos...enquanto ela segue, mesmo desgovernada, eu sou a maquinista que comanda tudo. Calmaria eu deixo para a minha velhice, se até lá eu chegar.”

Desde a meninice já éramos amigos e compartilhávamos a mesma rua, as mesmas brincadeiras e era sempre ela que me puxava para as aventuras mais arriscadas. Em sua rebeldia precoce enfrentava os valentões com seu costumeiro deboche e apanhava bastante por isso e, na tentativa de defendê-la, eu acabava apanhando também. Quando adolescente e leitora frequente de poemas, em meio ao sorriso solto, dizia: Já pensou, Marcelo? se Fernando Pessoa tivesse conhecido a gente, certamente não escreveria aquele verso... “Nunca conheci quem tivesse levado porrada”... Naquela época eu nem sempre entendia o que ela falava. Meus sentidos estavam ligados a outras coisas e eu não queria saber de versos. Eu só queria pulsar com a idade dos hormônios.

Ela tinha uma ânsia que sempre lhe acompanhou. Vivia nas profundezas, mas submergia frequentemente para respirar os ares de uma existência repleta de impulsos, talvez assim suportasse melhor os subterrâneos para onde sempre voltava, aqueles lugares ermos e frios da alma, onde seus pensamentos dormiam.

As horas já se iam noite adentro e o turbilhão de sentimentos começava a suavizar em minha alma...talvez tivesse sido a caminhada, ou o efeito da cerveja e do blues. Mas a tristeza não, essa ainda iria doer por um tempo, como uma ferida de lenta cicatrização. A dor tem seus mistérios para regenerar um coração partido que não aceita a morte que nos golpeia no corpo e na alma e nos deixa perplexos, sem entender seus desígnios e mistérios. O que é mais compreensível, quando a morte nos escolhe ou quando escolhemos a morte? É sempre recorrente pensarmos no sentido da vida. Mas e se as respostas encontradas para nossos questionamentos não sejam aquelas que, no geral, esperam de nós? Que respostas ela teria encontrado para a renúncia da vida? O certo é que, desde cedo, ela aprendera a pensar e, quanto mais pensava, mais se combalia. Arriscou olhar para o abismo e não se protegeu do abismo que olhava de volta para ela.

Paguei a conta do bar e tomei o rumo de volta à minha casa.  Nos passos da minha melancolia eu ia lento, sem pressa. Pensava no dia que me esperava na manhã seguinte a engolir as horas do cotidiano. O amanhã guardava suas novas batalhas. Enquanto isso, eu caminhava sob um céu de estrelas intangíveis.


Genny Xavier